Redescobrindo a sexualidade depois da lesão

'Cadeirante deve ter amor próprio em primeiro lugar'

   A cadeirante Márcia Gori, e palestrante de sexualidade e Inclusão da PcD (Pessoa com Deficência), não acredita que existam barreiras para homens e mulheres cadeirantes viverem o prazer sexual.
   No entanto, ela afirma que há empecilhos que as próprias pessoas ao redor criam, ora por falta de conhecimento, ora por maldade mesmo.
   Ela explica também que os aspectos que mais leva em consideração na vida sexual são a boa saúde física, emocional, autoestima, além de conhecer o próprio corpo, deixando-o se expressar. 
   Para Márcia, o cadeirante deve ter amor próprio em primeiro lugar. Com isso, poderá conservar sempre a autoestima e nunca autorizar nenhum tipo de violência se instalar em sua vida.
   'Estudar, ler, aprender muito sobre tudo, conversar bastante com o parceiro ou parceira. O diálogo ajuda muito na compreensão das relações e sentimentos do casal porque instala-se a confiança e o desejo de estar junto e se conhecer mais profundamente', diz Márcia.

'O processo de redescoberta da sexualidade foi complicado'

   A gaúcha Juliana Carvalho dos Santos, que se tornou paraplégica após uma inflamação da medula aos 19 anos, explica que, no imaginário coletivo, os cadeirantes são assexuados ou impotentes. E essa é uma crença que não condiz com a realidade.
    Juliana, que hoje vive na Nova Zelândia, contou sua história no livro autobiográfico 'Na minha cadeira ou na tua?' (Ed. Terceiro Nome).
   'Na minha opinião, os principais mitos são a falta de capacidade para o trabalho, a associação com a ineficiência, como se a pessoa com deficiência fosse um fardo para a família e a sociedade. Há também o mito de que não é possível ser feliz tendo uma deficiência e, claro, o mito de que somos assexuados', opina.

'O lance é redescobrir novas formas de sentir prazer'

   A deficiência, no entanto, não atrapalhou a vida sexual de Juliana. No seu caso, como ela já havia tido relações sexuais antes de se tornar cadeirante, o processo de redescoberta da sexualidade foi longo e complicado.
   'As referências que eu tinha de prazer já não serviam para o meu novo corpo. Acredito que depende muito de cada pessoa para ter uma vida sexual plena. Claro que, dependendo de cada tipo de limitação física, certas posições não vão acontecer. 
   De pezinho não rola, por exemplo. Mas a criatividade esta aí para buscar novas posições e mesmo usar a cadeira de rodas como um acessório na hora do sexo', diz Juliana.
   Como o apetite sexual não diminui só porque você não controla mais suas pernas, Juliana precisou redescobrir o seu corpo. 'Depois da lesão muda muita coisa. Pode haver perda de sensibilidade, de mobilidade, mas o tesão segue o mesmo. E o orgasmo é uma função cerebral que independe de tato ou 'rebolation'.
    O lance é redescobrir novas formas de sentir prazer, readequar-se a essa nova realidade e curtir tudo com espelho no teto', conta.

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